sábado, 3 de setembro de 2011

Desembargador Malheiros faz palestra para guardas civis em Cotia.

QUA, 31 DE AGOSTO DE 2011 13:27
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Direitos Humanos. Esse foi o tema da palestra ministrada na manhã dessa quarta-feira(31), no auditório da sede da Guarda Civil, em Cotia.

O palestrante foi Antonio Carlos Malheiros, juiz desembargador do Tribunal de Justiça e coordenador da infância e da juventude, além de cidadão cotiano.

Cerca de 80 guardas (chefes, integrantes da Romu, Corregedoria e Guarda Ambiental) participaram da palestra, que fez parte da última fase do curso de formação da Romu - Rondas Municipais.

O Secretário de Segurança, Almir Rodrigues, abriu a palestra, falando da oportunidade e do privilégio de receber o desembargador. "Apesar da agenda atribulada, ele arrumou um tempinho para vir aqui. São poucas as corporações que tem esse privilégio", relatou.

Com seu jeito calmo e sereno, Malheiros deu bom dia à todos. "Eu sei que muitas vezes há uma deturpação do que seja realmente "direitos humanos". Mas a única definição para isso é a "solidariedade", ressaltou.

Segundo ele, a cultura jurídica de nada vale se as pessoas não forem boas. "É necessário que vocês acreditem nisso. Muitas das pessoas que vocês não dão importância, essas são as mais importantes", enfatizou.

Para Malheiros, se ficarmos de lado nas coisas da vida, só vamos ver as aparências. "Temos que participar". Ele contou sobre suas primeiras experiências, quando ainda era adolescente e esteve na favela. Lá conheceu uma menina de 13 anos, grávida, que o convidou a conhecer o lugar onde morava. "Ela me levou justamente onde eu não queria ir", disse. Ao chegar na casa da menina, um pequeno barraco, encontrou a mãe doente com câncer e um colchão onde dormiam sete pessoas da família. A menina lhe contou que numa noite, um dos seus irmãos a engravidou ali.

"Depois desse dia, eu nunca mais saí da favela da vida", contou o desembargador.

Malheiros contou do trabalho desenvolvido nas favelas, com crianças e adolescentes. "Se trabalharmos bem com eles, teremos um futuro melhor".

E aproveitou para citar o caso das meninas que estavam roubando na Vila Mariana: "A solução está na vinda de escolas públicas de segunda à sábado. O Estado chegando mais perto das pessoas, trazendo mais justiça. Isso dará um pouco mais de dignidade para essas pessoas e elas devolverão isso para a sociedade", afirmou.

Citou também o caso da favela acima, na qual voltou anos depois e as crianças haviam crescido e se tornado líderes comunitários. "Tinham feito um trabalho espetacular junto à comunidade, um trabalho em parceria com os policiais e com todos. Ali o traficante (Estado paralelo)não conseguiu entrar pois houve organização da sociedade. E quando o Estado paralelo se instala, dificilmente vamos conseguir tirar. Ele sai, mas volta", relatou exemplificando o caso do Rio de Janeiro, onde foi feito um trabalho, porém o tráfico está retornando. "Se a comunidade não estiver efetivamente conosco, não conseguiremos nada, principalmente entre as crianças e os adolescentes", disse.

Sob seu comando, está sendo montado um posto do Poder Judiciário dentro da cracolândia. "É meio tarde, mas temos que agir", ressaltou. Ali vivem meninas de 13 e 14 anos, todas grávidas e vítimas do crack.

"Como coordenador da infância e da juventude, cada dia de manhã abro uma caixa de Pandora", relatou. "Miséria gera miséria. São os próprios pais explorando os filhos, tortura dentro de casa. São casos onde às vezes da vontade de se fazer justiça além da Lei. Mas não podemos. Ou confiamos nos poderes institucionais ou vamos nos enfiar num buraco de onde não vamos mais sair", enfatizou. "Nos mantermos indignados faz bem, mas quando a indignação vira raiva, aí é que mora o perigo".

Trabalho Voluntário

Além de desembargador, Malheiros é também educador e pai de família. E nas horas vagas o juiz se transforma em um contador de histórias.

Sim, ele conta histórias em hospitais. Toda sexta-feira a tarde, se dirige ao Hospital Emílio Ribas, onde fala para crianças portadoras do vírus HIV.

Malheiros disse que as vezes já chegou quase a perder a esperança, e a sentir que "estava enxugando gelo ou tapando o sol com a peneira". Mas ao passar por um experiência na véspera de Natal, no Hospital de Queimados, ele viu que valia a pena.

Ele contou que passou o dia com um menino de 13 anos com o rosto totalmente transfigurado pelo fogo, o qual não esboçou nenhuma reação diante das tentativas de Malheiros, contando histórias, dando risadas. O menino não se moveu.

Desanimado, ele estava indo embora pensando consigo mesmo: "Porque eu fico correndo atrás dos problemas das pessoas"?

Foi quando o menino o chamou e disse: "Tio, pode não parecer, mas eu estou sorrindo".

"Temos que tentar fazer o melhor pela Justiça e o melhor pelos Direitos Humanos. Isso é a Solidariedade", finalizou.

Guardas Civis fazem perguntas ao desembargador sobre situações do cotidiano

Após palestrar, o desembargador abriu o debate para perguntas e em seguida todos foram convidados para um café.

Malheiros deixou a certeza de que nem tudo está perdido, e que se olharmos uns aos outros como irmãos, o mundo terá um futuro bem melhor e com menos injustiça.

Matéria e fotos: Fau Barbosa


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GCC Souza Lima

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