sexta-feira, 5 de julho de 2013

03/07/13 - Por Dennis Guerra: Trecho do texto

Jornalismo de Guerra - A Missão: “(...) Os conflitos armados que ocorrem por todo o mundo são, nos dias de hoje, exaustivamente relatados e analiticamente dissecados pelos meios de comunicação social. Quer ocorram na "civilizada Europa" ou no mais





esquecido país do terceiro mundo, inúmeros repórteres são prontamente enviados para os cenários de guerra, numa procura incessante de informação. Inicia-se, assim, uma nova guerra, a guerra dos media, aparentemente sem regras, que conta apenas com o profissionalismo e a capacidade de discernimento dos jornalistas que nela se vêem envolvidos.

VEJA AINDA:



Em tempo de guerra, a pressão exercida sobre os jornalistas no terreno é constante. A fome de notícias torna-se voraz, obrigando os repórteres a encontrar, com a maior rapidez possível e nos recantos mais inimagináveis, acontecimentos passíveis de suscitarem interesse. Esta necessidade de consumo imediato de factos (ou pseudo-factos) é, muitas vezes, causadora de atropelos à ética jornalística.

A grande velocidade imprimida ao fluxo informativo limita o tempo de ponderação sobre o que é ou não notícia ou até que ponto as reportagens ferem a individualidade e a segurança das pessoas nelas expostas. Fica também relegada para planos secundários a total confirmação da veracidade dos dados recolhidos, que em tempo de guerra não passam muitas vezes de simples boatos. Com estes procedimentos, os meios de comunicação arriscam-se a pôr em perigo a integridade física e moral de várias pessoas, desde as testemunhas até ao próprio repórter. Em casos extremos, devido ao fomento de rumores infundados, estas notícias podem mesmo prejudicar ou agravar a situação no terreno, criando tensões entre as forças beligerantes.

As grandes beneficiárias desta forma de actuação dos media são as audiências, que disparam, atingindo sucessivos recordes. Porém, para além das pessoas envolvidas no conflito, a opinião pública é claramente lesada. Ao ser abalroada por "meias-verdades" que toma como inteiramente credíveis, cria equívocos de grande dimensão que só após o fim da guerra são devidamente esclarecidos ou desvendados. (...)”

Fazendo uma ponte...

Inicio este artigo com uma breve leitura do texto de Pedro Cardoso, do 2º Ano do Curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação da Universidade do Porto. Achei muito pertinente, pois através dele fareiuma ponte à experiência vivida no último dia 18/06/2013, data essa que ficará marcada para sempre na vida de muitas pessoas que conheço - principalmente na minha. Nesse dia, a Guarda Civil Metropolitana impediu a invasão da sede da Prefeitura de São Paulo por participantes de uma das centenas de manifestações que ocorreram por todo o país. Com mais tranquilidade agora, eis a minha visão:


Poucos poderiam imaginar como seria aquele dia


Naquela manhã, parte do efetivo da Inspetoria de Operações Especiais - IOPE - permaneceu de prontidão pela base. A outra parte, composta basicamente pelo Grupamento de Motociclistas, dirigiu-se à sede com o objetivo de acompanhar a movimentação dos manifestantes. Outras equipes da GCM já estavam no local. Viaturas passavam informações a todo o momento sobre a situação pela área central.
Era prevista a presença de 120 mil pessoas na Praça da Sé a partir das 17:00 h.



Com uma concentração de pessoas dessa magnitude, ficava óbvio que, se não todas, pelo menos uma parte considerável seguiria para a prefeitura. Foi o que aconteceu.

No início, podia-se perceber uma grande quantidade de repórteres procurando o ‘melhor lugar’ para registrar os fatos. Uma grande quantidade de pessoas passava a ocupar a frente da prefeitura e o efetivo da GCM/SP se colocava em frente às entradas do prédio. Em certo momento, fui indagado pelo Sr. Roberto Porto - Secretário Municipal de Segurança Urbana (que esteve pelo local deste o início até o fim daquele dia) se estava tudo bem. Respondi que sim. 

Conforme aumentava a concentração de manifestantes, percebia-se que alguns ficavam mais exaltados. Os jornalistas eram orientados a permanecerem atrás de uma linha de segurança - o quê, inevitavelmente, por vezes eram novamente orientados. Palavras de ordem eram emanadas pelo público, um boneco era queimado, as grades eram forçadas.






O comandante da operação continuava a orientar os organizadores da manifestação a amenizar os ânimos dos mais eufóricos, mas até certo ponto, em vão. O efetivo da Guarda Civil permanecia no local atento ao que ocorria ao seu redor.


O que poucos imaginavam estava prestes a acontecer

Com a invasão da área delimitada, a multidão avançou até parar em frente aos integrantes da Guarda Civil Metropolitana. Procurando evitar o confronto, o comando da operação determinou que os GCMs adentrassem para a sede da prefeitura. Os doze escudeiros da IOPE permaneceram à frente da entrada enquanto o restante do efetivo seguia pela retaguarda. Jornalistas inoportunos tentavam conseguir mais informações. Até aquele momento, os manifestantes ainda não haviam percebido a movimentação que ocorria à retaguarda dos escudeiros.


O fato mais perceptível é que a utilização de equipamentos de filmagem tem um poder de inibição muito singular em situações como essa. Enquanto a câmera em minha mão girava de um lado para o outro, alguns manifestantes recuavam, outros procuravam afastar os mais exaltados. Muitos utilizavam as suas câmeras e celulares para conseguirem imagens que pudessem denegrir a ação dos guardas... tudo em vão.


Tranquilidade ou Efeito Túnel - Talvez, por não ser a primeira vez - e provavelmente não a última - e conhecer o potencial da equipe da qual se faz parte, foi relativamente fácil permanecer filmando toda a ação. Quando se analisa as imagens feitas pelos canais de TV, a impressão que se tem é que a narrativa do apresentador colabora muito mais para gerar intranquilidade ao telespectador do que efetivamente transmitir a realidade. Quando se está no olho-do-furacão, o objetivo é orientar justamente aqueles que estão procurando tranquilizar o restante, e isso em nada se compara a tais narrativas sensacionalistas. Porém, é sempre bom ter cuidado e não confundir a convicção de estar calmo com o chamado Efeito Túnel, que gera uma espécie de afunilamento dos sentidos. Nesse caso, pode-se colocar tudo a perder. Um dos sinais mais claros de estar focado ao que ocorria ao redor é o momento do recolhimento. Talvez esse seja o momento mais marcante - para mim - naquela noite: o sincronismo dos movimentos permitiu que a câmera permanecesse firme em minhas mãos.


Com a ordem para retornar, focava-se agora a ação na segurança dos que estavam dentro do prédio. A partir desse momento, considerou-se que a ação no lado externo passou aos cuidados da polícia de manutenção da ordem pública. Durante todo o tempo, em meio ao gás lacrimogênio que pairava sobre o ar, ouviam-se vidros sendo quebrados e bombas explodindo do lado de fora. Os GCMs se colocavam em acessos de todo o prédio a fim de evitarem invasões. Na frente da prefeitura encontrava-se a maior


concentração de manifestantes. O efetivo IOPE permanecia nessas entradas. O secretário Roberto Porto permanecia no local.


Um veículo de reportagem tornou-se o alvo dos manifestantes mais violentos. GCMs avaliavam a situação da seguinte maneira: apagar as chamas e arriscar a proteção da prefeitura ou aguardar. Com a chegada do Corpo de Bombeiros, essa dúvida foi sanada. A minha noiva - assim como outros amigos - ligou para saber como estávamos.

Ela disse:


Te vimos na TV... como você está? O que está acontecendo aí?

Percebendo a preocupação em sua voz, tentei tranquilizá-la (assim como o restante de minha família) mudando o foco do problema:

Eu: Estamos bem, pena que acabou o café!

Ela: Café?! Vocês estão cercados por uma multidão e você diz que não tem café?

Eu: Minha gata, ‘tá tudo bem aqui. Só não está melhor porque acabou o café e eu não encontro a copeira.


Um repórter, que havia entrado no prédio com receio da violência, fazia filmagens. O secretário Roberto Porto, preocupado com a sua segurança, solicitou que ele fosse retirado da frente das portas. Com escudos à dianteira, GCMs atravessaram a linha das entradas e o retiraram do local. O repórter permaneceu na sede fazendo os seus registros. Por minutos não se ouviam vozes no saguão, apenas janelas que eram continuamente estilhaçadas e gritos que vinham do lado



de fora do prédio. Os GCMs continuavam atentos. Olhei do meu lado e vi o momento em quê a Bandeira do Município de São Paulo era devidamente dobrada pelos GCMs que a resgataram. Em outro piso, uma bancada de atendimento era utilizada como ponto de apoio para evitar que manifestantes arrombassem a porta com a utilização de umaríete improvisado. Outros guardas utilizavam extintores para afastar possíveis invasores em uma das janelas. O restante permanecia no estacionamento, monitorando a entrada. Alguns GCMs escalavam as janelas do saguão para visualizar possíveis tentativas de acesso. Uma motocicleta era queimada no Viaduto do Chá. 






Eu me via como um 'repórter de guerra'. Por mais que eu tivesse publicado ocorrências das mais diversas neste site - entre elas algumas com a minha participação -  nada seria comparável a esse momento. Perguntei à uma colega se ela já havia imaginado uma situação como aquela: “Nunca!”



Depois da tempestade...




Com a chegada da Polícia Militar - cerca de uma hora e meia depois das portas se fecharem - houve a dispersão de parte dos manifestantes. Surgiam casos de saques ao comércio local e equipes da GCM detiveram parte dos acusados. O secretário Roberto Porto aproximava-se dos integrantes da GCM e dizia:

“Parabéns, a Sede da Prefeitura de São Paulo só não foi invadida essa noite porque vocês estão aqui. Vocês estão de parabéns... todos vocês!”

Com a liberação do local, todos foram encaminhados à suas bases. Na Inspetoria de Operações Especiais o sentimento de missão cumprida era tão contagiante que muitos ainda demoravam a se encaminhar para a sua residência. No meu caso, essa é a parte daquele dia que menos me recordo. Sabia apenas o quanto é maravilhoso ter alguém te esperando.

Quando cheguei em casa, a minha noiva me aguardava com um café que havia acabado de passar. Nos abraçamos, conversamos, rimos, tomamos uma xícara e então ela disse:

“Eu aqui chorando de tanta preocupação e você me diz que não tem café. É bem a sua cara mesmo!”

Um agradecimento especial à Renata Guazzelli, Allison Magnus, Roberta Faria, Adriano Duarte e Ingrid Alfaya, que me incentivaram a escrever este texto.

Fonte de pesquisa: Forumedia em 01/07/2013 às 12:49h:

Fotos: Dennis Guerra (Foto 4 Facebook)

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